O processo de modernização da agricultura brasileira resultou em profundas modificações nas relações sociais, no mundo do trabalho e da produção. Mas a modernização teve também como conseqüência, num modelo social perverso como o nosso, a permanência da concentração da terra, o êxodo rural, aumentou o processo de assalariamento para o homem rural, concentrou capitais e gerou um processo de industrialização da agricultura, direcionada para atender às demandas do capital nacional e internacional. Este processo causou e tem causado problemas sociais ao trabalhador rural, como o desemprego estrutural.
A industrialização da agricultura, suporte do aumento da produtividade agrícola, é representada por todo tipo de maquinaria, implementos e insumos modernos que advêm das agroindústrias. Os modernos implementos agrícolas, se por um lado auxiliam o processo de produção, por outro causaram e causam desemprego e êxodo rural dentro de um modelo de desenvolvimento concentrador e excludente, como o do Brasil.
Hoje, assiste-se à consolidação de um setor altamente modernizado da agricultura, o chamado Agrobusiness, que se propõe a superar a dicotomia entre agricultura e indústria, ao englobar a produção, a industrialização e o comércio de produtos agrícolas, representando quase 50% do PIB brasileiro, ao lado de um setor, como os Sem-Terra, que lutam por um pedaço de terra para produzir.
Nesta conjuntura, como o sindicalismo rural tem analisado esta questão? Este artigo pretende apenas dar alguns indicativos desta discussão.
NOVAS TECNOLOGIAS E RELAÇõES SOCIAIS NO CAMPO
A questão agrária, nos terrenos culturais, sociais e econômicos, apresenta-se como um dos campos de análise mais complexos. Globalização, novas tecnologias, difusão da indústria cultural, fazem da questão rural um campo de exclusão e integração, de globalização e localismos, de modernidade e tradicionalismo. Ianni afirma que:
Aos poucos, ou de repente, conforme a província, o país, a região ou o continente, a sociedade agrária perde sua importância quantitativa ou qualitativa na fábrica da cidade, no jogo das forças sociais, na trama do poder nacional, na formação das estruturas mundiais de poder. Em vários casos, o mundo agrário decresce de importância, na organização e dinâmica das sociedades nacionais e da sociedade global, ou simplesmente deixa de existir.2
Um dado fundamental é a crescente urbanização das relações sociais, culturais e políticas do campo. É visível a homogeneização, ou monopolização da cultura mundial. Os meios de comunicação aproximaram as zonas rurais das áreas urbanas trazendo, em escala crescente, a urbanização da cultura rural. O rádio e a televisão são aparelhos presentes mesmo nas regiões mais pobres e periféricas do campo. Mas também o telefone celular, o fax, e o computador já estão presentes no processo produtivo e cultural em diversas regiões. O rural torna-se urbano.
O que é certo é que novas relações urbano-rurais configuram-se neste momento, trazendo à luz novas relações sociais que permitem a seguinte pergunta: existe pertinência na permanência deste dualismo rural/urbano, num mundo que globaliza-se em termos econômicos e culturais? Onde a cultura televisiva e parabólica chega de maneira massiva à "casa do homem do campo", e a produção alimentícia se submete aos desígnios da ciência e da técnica, sob o patrocínio de uma nova revolução na gestão e na produção do capitalismo mundial?
O processo de modernização da agricultura acompanha o capitalismo, porém, a partir dos anos 40, desenvolve-se na agricultura, um novo padrão de desenvolvimento tecnológico, com o incremento do uso do trator e diversas maquinarias agrícolas, e ao uso de fontes energéticas como a eletricidade e o petróleo. Concomitantemente, existe um forte crescimento na pesquisa biológica e química, com o uso de fertilizantes, defensivos, sementes híbridas e fungicidas.
Este processo acelerou o incremento de capital na agricultura e na indústria ligada ao ramo agropecuário, aumentando a dependência do setor agrícola ao capital industrial.
Na década de 60 a agricultura conhece a chamada "Revolução Verde", difundindo técnicas agrícolas desenvolvidas nos países centrais para os países periféricos. As tecnologias exportadas para estes países possuíam caráter de produtos de exportação, não resolvendo o problema básico de alimentação das populações, assim como, devido ao alto custo das aquisições destas tecnologias, que trouxeram um processo de endividamento dos produtores. Além do mais, causaram problemas ambientais pela poluição, pelo uso de agrotóxico e problemas de dependência do petróleo.
Nos anos 70 as crises no capitalismo central levaram as empresas e governos a abrirem novos caminhos para a elevação da produtividade, buscando principalmente o incremento de pesquisas em novas tecnologias, principalmente àquelas ligadas ao desenvolvimento mecânico e químico.
Os anos 80 e 90 são marcados pela difusão da microeletrônica e, em menor escala, porém de importância para a agricultura, da biotecnologia, que já começam a ser utilizadas no processo produtivo e gerencial alimentar.
O atual processo de expansão e globalização do capitalismo possibilita profundas mudanças no mundo rural. O monopólio da grande produção pelas agroindústrias, a produção para o mercado, o consumismo e a cultura urbana integram o mundo do rural às competitividades do mercado.